Eu posso te
contar das chuvas que apanhei, das noites que varei no escuro sem nem saber o
que buscar. Não lutei contra o rei, mas tive minhas discussões com Deus,
afinal, se foi pra desfazer por que é que fez?
Eu posso te
contar das pedras do caminho, eu conheço os passos dessa estrada e sei que não
vai dar em nada, serão novos dias tristes, noites claras, versos, cartas e alguns
sonetos para colecionar.
Posso aqui
enumerar as dores e as delícias de ser o que sou, mas ninguém escapa ao peso de
viver assim, ser assim. O seu coração, assim como o meu, não se cansa de ter
esperança de um dia ser tudo o que quer.
E um dia, com
raiva, para os céus os braços você vai levantar, blasfemar, achando que todos são contra você. Você que errou pela vez primeira! Mas ser ré
primária não te livrará de passar pelos dissabores.
Eu não direi
que é tarde demais que é tão diferente assim, apenas saiba que se amanhã não
for nada disso, caberá só a você esquecer.
Não direi
também que você está louco, é só um jeito de corpo, não precisa ninguém te
acompanhar. De perto, ninguém é normal mesmo.
Apenas ouça
este bom conselho que lhe dou de graça, será inútil dormir, a dor não passa.
Você pode agir duas vezes antes de pensar se quiser, mas esteja preparada para
quando a chuva passar por aí, pois será você mesma quem cuidará de secar e não
será tarefa fácil, ao menos não foi para mim.
Durante
algum tempo realmente acreditei que se não tivesse o amor, se não tivesse essa
dor e se não tivesse o sofrer e se não tivesse o chorar, melhor era tudo se
acabar. Mas hoje, depois de ir contra a
corrente até não poder resistir, sigo o
velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar, afinal é na volta
do barco que se sente o quanto deixou de cumprir.
Não me leve
a mal, mas me leve a sério, acredite: passou este verão, outros passarão. E se
te falo tudo isso agora é para que você ouça todas estas canções, que apesar de
não ter feito nenhuma delas, juntei pra dizer que eu te adoro cada vez mais e
que eu te quero sempre em paz.
Célia Aguiar