Eu vou te contar uma coisa. Parece simples. Você vai achar até óbvio. Mas não é.
Além de não ser simples, é muito importante - talvez a coisa mais importante de se saber nessa vida:


- As histórias, somos nós que produzimos.

Não é a primeira vez que morro na praia. 
Com menos ou mais braçadas, já morri antes. 
Na praia. 
Diz Caymmi que é doce morrer no mar. 
Acho também. 
Morrer tentando.
Tentar, mesmo morrendo.
Abraçarei o mar quantas vezes mais for preciso. Na maré cheia ou na maré rasa - como é o coração de tantos.
Morrerei na praia, abraçada ao mar, enquanto meus olhos molhados de sal avistarem horizonte.
Já viu como, de dentro do mar, o horizonte parece maior?

Célia Aguiar
2018, outubro. 

Eu quero fazer samba e poesia

Olhar a rua

E dizer aos meus companheiros

Que são eles a minha guia



Dizer o que o peito não quer calar, mesmo quando os olhos querem

Que a lágrima do coração é mais difícil de enxugar



Quero te contar, te acessar, te levar

Quero não me caber, ser outro ser, conhecer



O mundo está aí, há muito.

Eu estou aqui, pra nada.

Só quero poder dizer, cantar, sambar, benzer, chover, amar.



Vem comigo.

Pra lugar algum.

Eu juro que lá é bom.



Célia Aguiar
2018, outubro.

O mendigo vinha sorrindo. Um sorriso sem dentes bem bonito.
Cruzei com ele na calçada.
Eu triste, boca fechada, olho caído.
O mendigo teve pena de mim.