Meu intuito.


"Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso

(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo."
Caetano Veloso



terça-feira, 29 de outubro de 2019

É doce morrer no mar.

Não é a primeira vez que morro na praia.
Com menos ou mais braçadas, já morri antes.
Na praia.
Diz Caymmi que é doce morrer no mar.
Acho também.
Morrer tentando.
Tentar, mesmo morrendo.
Abraçarei o mar quantas vezes mais for preciso. Na maré cheia ou na maré rasa - como é o coração de tantos.
Morrerei na praia, abraçada ao mar, enquanto meus olhos molhados de sal avistarem horizonte.
Já viu como, de dentro do mar, o horizonte parece maior?

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Eu sou filha de Marly, neta de Odila, bisneta de Iracema, tataraneta de Olímpia.

Nesse exato momento passa um filme na minha cabeça. 
Eu lembro dela em todos os momentos. 
Claro, ela é minha mãe. 
Eu lembro do cheiro dela. 
Cheiro de alho e cebola na ponta dos dedos. 
Eu lembro do carinho que ela fazia nas minhas costas. 
E lembro também dela chorando, dizendo que não sabia por que, mas que tinha uma angústia no peito. 
Hoje sei que além de minha mãe, ela é... Gente! 
Gente que chora, que ri, que sofre e que canta. 
Como canta! 
Samba. 
Aprendi todos com ela. 
Além de toda uma vida, aprendi samba com ela. 
Aprendi a vida duas vezes então. 
A vivida e a vida muito mais vivida. 
Ela me ensinou a ser esperta. Nega véia, sabida. 
Ela me ensinou o tempero de uma boa comida. E não foi pelo livrinho, foi pela intuição. 
Ela me ensinou as histórias da minha avó.  
E as histórias da avó dela. 
E ensinou como a vida é difícil e ainda assim é bonita. 
Tem que defumar a casa. 
Ela me ensinou a sorrir esse sorriso que muda uma vida. 
Ela me ensinou de onde eu venho. 
Ela me ensinou pra onde eu vou. 
Eu sou filha de Marly, neta de Odila, bisneta de Iracema, tataraneta de Olímpia. 
Vem daí a minha força. 
E daí que eu continuo. 

Eu vou continuar.

2019, junho. 

sábado, 3 de novembro de 2018



Eu vou te contar uma coisa. Parece simples. Você vai achar até óbvio. Mas não é.
Além de não ser simples, é muito importante - talvez a coisa mais importante de se saber nessa vida:


- As histórias, somos nós que produzimos.




segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Não é a primeira vez que morro na praia. 
Com menos ou mais braçadas, já morri antes. 
Na praia. 
Diz Caymmi que é doce morrer no mar. 
Acho também. 
Morrer tentando.
Tentar, mesmo morrendo.
Abraçarei o mar quantas vezes mais for preciso. Na maré cheia ou na maré rasa - como é o coração de tantos.
Morrerei na praia, abraçada ao mar, enquanto meus olhos molhados de sal avistarem horizonte.
Já viu como, de dentro do mar, o horizonte parece maior?


Célia Aguiar
2018, outubro. 

domingo, 28 de outubro de 2018

Eu quero fazer samba e poesia

Olhar a rua

E dizer aos meus companheiros

Que são eles a minha guia



Dizer o que o peito não quer calar, mesmo quando os olhos querem

Que a lágrima do coração é mais difícil de enxugar



Quero te contar, te acessar, te levar

Quero não me caber, ser outro ser, conhecer



O mundo está aí, há muito.

Eu estou aqui, pra nada.

Só quero poder dizer, cantar, sambar, benzer, chover, amar.



Vem comigo.

Pra lugar algum.

Eu juro que lá é bom.



Célia Aguiar
2018, outubro.



quinta-feira, 6 de setembro de 2018

O mendigo vinha sorrindo. Um sorriso sem dentes bem bonito.
Cruzei com ele na calçada.
Eu triste, boca fechada, olho caído.
O mendigo teve pena de mim.

sábado, 14 de outubro de 2017

O touch do celular reconhecia sempre o dedo, mesmo que torto, rápido demais ou até molhado. Mas aquele dia era molhado de lágrima. Não reconheceu. Era como se falasse “quê isso, menina, essa aí não é você, não”. É, sim, touch do celular, essa sou eu versão fratura exposta.


sexta-feira, 28 de julho de 2017

Ancestralidade.
Oralidade.
Identidade.
Muitos me perguntam por que eu gosto tanto de samba.
Pois eu digo que é porque é legítimo.
Porque é autêntico.
Genuíno.
Porque é nosso.

Mas para ser nosso, muitos (negros) já apanharam. Morreram (os negros).
O samba, sobretudo e a despeito de tudo, resistiu.
Samba sempre foi canto de lamento, trabalho, tristeza e alegria. Assim mesmo, tudo junto.
É canto de conexão. De banzo. De amor.

Batucado na lata de graxa. Na caixa de fósforo. Na faca que bate no prato.
O samba que faz parte da história das cidades. Que faz suas curvas pelas ruas da cidade. Aquelas que ninguém vê.

O samba que é crônica, que é instrumento para falar da gente. Da nossa gente.
Samba que nos conta sobre os dias que se foram e carrega a esperança - a esperança resistente dos nossos ancestrais africanos - para os que hão de vir.

Por isso, por tudo isso, eu e você temos a responsabilidade de aprender e cultuar o samba, dar pulso ao samba.
Samba de Roda.  
De Terreiro.
O Samba Rural, dos quilombolos*
Dos Cordões.                                                                                                              
Samba de Umbigada.
O do Partido-Alto.
Samba-raiado, sincopado, de breque.
Jongo, o avô do samba.

Um salve aos griôs**, que nos ensinam.
Um salve à Velha Guarda, que é negra, forte e destemida.
Um salve aos nossos baluartes. Todos.
E salve – por favor, salvem – o samba: o maior baluarte da nossa cultura.
Oxalá!


*Quilombo:
Toda comunidade negra rural que agrupe descendentes de escravos, vivendo de cultura de subsistência e onde as manifestações culturais têm forte vínculo com o passado.

**Griôs:
A palavra griô tem origem na tradição oral africana, utilizada para designar mestres portadores de saberes e fazeres da cultura, eAncestralidade.
Oralidade.
Identidade.
Muitos me perguntam por que eu gosto tanto de samba.
Pois eu digo que é porque é legítimo.
Porque é autêntico.
Genuíno.
Porque é nosso.

Mas para ser nosso, muitos (negros) já apanharam. Morreram (os negros).
O samba, sobretudo e a despeito de tudo, resistiu.
Samba sempre foi canto de lamento, trabalho, tristeza e alegria. Assim mesmo, tudo junto.
É canto de conexão. De banzo. De amor.

Batucado na lata de graxa. Na caixa de fósforo. Na faca que bate no prato.
O samba que faz parte da história das cidades. Que faz suas curvas pelas ruas da cidade. Aquelas que ninguém vê.

O samba que é crônica, que é instrumento para falar da gente. Da nossa gente.
Samba que nos conta sobre os dias que se foram e carrega a esperança - a esperança resistente dos nossos ancestrais africanos - para os que hão de vir.

Por isso, por tudo isso, eu e você temos a responsabilidade de aprender e cultuar o samba, dar pulso ao samba.
Samba de Roda.  
De Terreiro.
O Samba Rural, dos quilombolos
Dos Cordões.                                                                                                              
Samba de Umbigada.
O do Partido-Alto.
Samba-raiado, sincopado, de breque.
Jongo, o avô do samba.

Um salve aos griôs, que nos ensinam.
Um salve à Velha Guarda, que é negra, forte e destemida.
Um salve aos nossos baluartes. Todos.
E salve – por favor, salvem – o samba: o maior baluarte da nossa cultura.
Oxalá!sses transmitidos oralmente. Os griôs são aqueles que há séculos preservam e transmitem as histórias.
A palavra griô ao ser incorporada à cultura brasileira teve seu sentido ampliado, sendo agregadas ao oficio do griô outras ações, como cantoria, dramaturgia, danças, além da contação de histórias; mas sem perder a sua referencialidade quanto à valorização de transmissão de saberes por meio da tradição oral.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

E de repente, começo a sentir uma saudade doída. De tudo. Da minha infância, dos meus sonhos, das imaginações acerca do que seria eu hoje. Da leveza, da brisa no meu rosto, apertando os olhos só para ver pontinhos de luz. Não tem mais nada disso. Tudo tão duro. Tudo tão realidade. Acorda, menina! Olha sua idade. Não dá mais pra imaginar, tem que fazer, tem que produzir, tem que ser.  Não qualquer coisa, tem que ser boa. Tem que ser destaque. Tem que ganhar bem. Tem que ganhar elogios, prêmios, conta bancária gorducha. O que sua família vai pensar de você? E seus amigos? Olha lá, todos com apartamento, carro, férias no exterior. E você aí, procurando sentido nas coisas. Esquece! Anda. Não olha pra trás. Não tem mais nada daquilo. É assim que é agora. E se for chorar, chora baixo. Escondido. Que coisa de gente fracassada chorar.