E de repente, começo a sentir uma saudade doída. De tudo. Da
minha infância, dos meus sonhos, das imaginações acerca do que seria eu hoje. Da
leveza, da brisa no meu rosto, apertando os olhos só para ver pontinhos de luz.
Não tem mais nada disso. Tudo tão duro. Tudo tão realidade. Acorda, menina! Olha
sua idade. Não dá mais pra imaginar, tem que fazer, tem que produzir, tem que
ser. Não qualquer coisa, tem que ser boa.
Tem que ser destaque. Tem que ganhar bem. Tem que ganhar elogios, prêmios, conta
bancária gorducha. O que sua família vai pensar de você? E seus amigos? Olha
lá, todos com apartamento, carro, férias no exterior. E você aí, procurando
sentido nas coisas. Esquece! Anda. Não olha pra trás. Não tem mais nada daquilo.
É assim que é agora. E se for chorar, chora baixo. Escondido. Que coisa de
gente fracassada chorar.