Meu intuito.


"Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso

(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo."
Caetano Veloso



quinta-feira, 19 de junho de 2008

No trem


No trem, um dia nunca é igual ao outro.

Não somente pelas surpresas que a CPTM oferece como “avarias no material rodante”, o que faz com a operação fique mais lenta, o que faz com que acumulem passageiros nas plataformas, o que faz com que o mar de gente te impeça de chegar até a porta do trem (isso quando a porta do trem não está suficientemente entupida de gente, o que faz com que você nem tente chegar até ela) e, finalmente, o que faz com que o seu dia comece com muita emoção (até demais para o meu gosto!)

No trem, um dia nunca é igual ao outro, porque sempre há pessoas diferentes, com histórias diferentes, mas que de certa forma, criam uma unidade no mínimo interessante. As pessoas interagem. Entre elas, ou com o ambiente. Algumas conversam com amigos (e sempre tem um terceiro pescando a conversa), algumas fazem suas leituras. Tem sempre alguém que aproveita o tempo para recuperar o sono perdido e outro que só observa a paisagem ou analisa o intenso tráfego da marginal, enquanto aproveita para pensar na vida.

É interessante perceber como a desigualdade reflete também nas estações. As estações Osasco, Ceasa, tão desprovidas de estrutura e beleza enquanto outras como Vila Olímpia, Morumbi com tanto glamour, cercadas de belos prédios empresariais, arranha-céus imponentes, com gente engravatada e apressada.

O trem tem como finalidade exclusiva o transporte de seus passageiros, mas pode ser, também, um bom negócio, para não dizer um meio de sobrevivência. Driblando a fiscalização, vende-se de tudo no trem: de bala a cortador de unhas.

Tudo isso à margem de um rio, o Pinheiros, que dizem sem vida, mas, de repente, eis que surge uma capivara ou uma garça à sua margem! Em alguns momentos, há bastante tempo para observar essas vidas, pois vez ou outra o trem pára no meio do caminho, entre uma estação e outra e não há o que fazer, senão esperar.

Na volta, no horário de pico, andar de trem é uma aventura. Não é preciso esforço nenhum para entrar. Basta deixar-se levar. O corpo vai para um lado, a bolsa vai para o outro, mas, no final, se reencontram.

No trem, por mais lotado que esteja sempre há espaço para mais um, mais uma história. Aliás, história é o que não falta (mais para frente quem sabe eu dedique um post só com histórias que já vivi e ouvi!).

Os trens partem e as histórias seguem e eu continuo a observar estas pessoas, seus gestos e suas atitudes, brincando de adivinhar a vida do outro. Quantas histórias de vida. Quantas vidas anônimas.

“Todos os dias é um vai e vem
a vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
(...)
A plataforma dessa estação
é a vida desse meu lugar...”

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